sexta-feira, 26 de maio de 2017

A ligação entre Belas Artes e Música no Maranhão

Olá!

Conforme tratamos em várias oportunidades anteriores, São Luís foi uma cidade que teve um interessante movimento artístico durante o século XIX. Lamentavelmente, esse embrião prolífico para as Artes foi se desfazendo ao longo do século XX, marcado pela atuação de alguns artistas que literalmente "carregavam o mundo nas costas", na tentativa de manter essas práticas.

Uma história de descontinuidades e de lembranças de um passado promissor que se dissipou no presente... esse seria um possível resumo, a grosso modo, da História das Belas Artes e da Música no Maranhão. No caso das Artes Visuais, elas nos deixaram os registros de imagem mais antigos da região.

Expulsão do pe. Antonio Vieira e outros Jesuítas do Maranhão, representada em gravura do século XVIII

Panorama de São Luís, por Giuseppe Leone Righini (ca.1820-1884), circa 1860


Conforme informações do interessante blog "Arte Maranhense", do professor e artista João Carlos Pimentel Cantanhêde, alguns artistas estrangeiros foram residir em São Luís durante o século XIX. Mantinham-se principalmente através de aulas particulares e nas instituições de ensino que, na época, tinham a prática artística como componente curricular. Esse era o caso tanto das Artes Visuais quanto da Música.

Catedral da Sé do Maranhão, por Bernard Lemercier (circa 1860)


Um dos principais nomes da pintura maranhense no século XIX - se não o mais importante - é Domingos Tribuzy. Segundo informações da "Brasil Artes Enciclopédia", esse artista italiano nasceu em Roma. Encontramos evidências de que ele nasceu entre 1811 e 1812. Estudou na Academia São Lucas nessa cidade, especializando-se em desenho linear e pintura de figura e paisagem. Em 1829, estabeleceu-se em São Luís. Foi o primeiro professor de Desenho do Lyceu Maranhense, instituição onde atuou até sua aposentadoria, em 1874, quando se aposentou após 30 anos de contribuição - supomos, então, que ele ingressara nessa escola em 1844. Lecionou no Collegio de Nossa Senhora dos Remedios, mantido pelo português Domingos Feliciano Marques Perdigão (1808-1870), bacharel em Teologia e também professor de Música, e na Casa dos Educandos Artífices, instituição que teve importante atuação na formação musical maranhense da época. Tribuzy também dava aulas em casa ou em domicílio, indo às casas de seus aprendizes.

Em sua residência, Tribuzy também recebia artistas estrangeiros em trânsito, comercializava materiais de pintura, desenho e música. Em sua dissertação de Mestrado, o prof. João Neto menciona a venda de cordas para violão na casa de Tribuzy em 1852. Certamente tal fato se dava devido tanto a uma forma de aumentar sua remuneração quanto suprir a falta de estabelecimentos comerciais especializados na venda desses materiais - vimos, como exemplo, que o Maranhão nunca teve uma tipografia musical regular, havendo apenas algumas partituras impressas em momentos específicos.

Após sua aposentadoria, Tribuzy continuou dando aulas particulares de desenho e pintura. Em 1879, decidiu se mudar em definitivo para Belém, especialmente para se curar de beribéri, uma enfermidade recorrente no Maranhão nessa época. No início do ano posterior, sua esposa, dona Custodia Tribuzy, faleceu. Pouco depois foi a vez do artista, que faleceu no dia 7 de junho de 1880, sendo enterrado no então cemitério público da capital paraense.

Domingos Tribuzy deixou como discípulos vários artistas que tiveram relevante atuação no Maranhão, especialmente durante a segunda metade do século XIX. Dentre eles, destacamos João Manoel da Cunha Júnior (ca.1833-1899), que também era violinista e foi pai de Ignácio Manoel da Cunha (1871-1955), importante músico maranhense; e João Maria Billio Junior (18??-1879), progenitor da geração de músicos conhecida como os "Irmãos Billio" - Ignácio (ca.1860-1924), o mais famoso e que também estudou desenho com o pai, cuja biografia já fora tratada por nós; Marçal (ca.1865-1921) e Hygino (ca.1870-ca.1955). Notamos, portanto, um forte elo artístico entre Artes Visuais e Música. Para aumentar essa "coincidência": os "dois Ignácios" - Cunha e Billio - além de serem filhos de artistas plásticos, faziam aniversário no dia 31 de julho!

Diálogo na primeira metade do século XX

A Escola de Bellas Artes, fundada em 1922 e que funcionou até o início da década de 1930, foi uma primeira tentativa de instituir um estabelecimento de ensino artístico mais abrangente no Maranhão, a exemplo das Academias de Bellas Artes que havia no Amazonas e no Rio de Janeiro. Essa escola, na verdade, foi criada a partir de uma iniciativa da Sociedade Musical Maranhense (SMM), liderada por Adelman Corrêa (1884-1947) que a fundou em 1918. No ano de 1920, a SMM instituiu uma escola de música particular, que funcionava no prédio do Casino Maranhense - que, na época, funcionava atrás do atual prédio da Academia Maranhense de Letras. No final de 1921, foram convidados artistas plásticos, arquitetos e literatos para compor o corpo docente dessa escola, que a partir de então foi renomeada para "Escola de Bellas Artes". Nesse momento, o diretor era o trompetista e professor João José Lentini (1865-1940), natural da Bahia e que estabeleceu residência no Maranhão. Segundo João Carlos Cantanhêde em seu blog, quem atuou na cadeira de desenho foi o artista cearense José de Paula Barros (ca.1875-1926), que teve relevante atuação nas Artes Visuais do Maranhão nesse momento.

3 comentários:

  1. Domingos não era português, era natural do Maranhão, filho de Bento Marques Perdigão, frequentou Teologia em 1830 em Coimbra

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    1. Olá Jorge, vi seu comentário sobre Domingos Feliciano Marques Perdigão que era meu trisavô, pesquiso sobre a família e como vi seu comentário correto, pois ele nasceu no Maranhão e estudou em Coimbra, quero saber como sabe isso, se ™ alguma ligação e se poderemos comunicar. Se puder me responder no meu email agradeço. Até breve claudiasmissen@gmail.com

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  2. Olá Jorge, vi seu comentário sobre Domingos Feliciano Marques Perdigão que era meu trisavô, pesquiso sobre a família e como vi seu comentário correto, pois ele nasceu no Maranhão e estudou em Coimbra, quero saber como sabe isso, se ™ alguma ligação e se poderemos comunicar. Se puder me responder no meu email agradeço. Até breve claudiasmissen@gmail.com

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