terça-feira, 11 de julho de 2017

Música e turismo histórico

Durante o desenvolvimento da parte de Musicologia Histórica da pesquisa na qual tenho me dedicado atualmente, surgiu o interesse de buscar informações sobre músicos maranhenses em cemitérios. Em 2016, quando estava residindo na cidade do Rio de Janeiro, visitei o Cemitério São João Baptista. Encontrei o jazigo de três importantes músicos maranhenses: Leocádio Rayol (1849-1908), Elpídio Pereira (1872-1961) e João Nunes (1877-1951). A partir daí, passei a me interessar por essa atividade - chamada de "necroturismo" e que já é bastante recorrente em outros países - complementando a pesquisa. Apresentarei adiante os resultados parciais da pesquisa até o presente momento.


Cemitério São João Baptista
Localizado no bairro Botafogo, na capital fluminense, é o maior mausoléu a céu aberto da América Latina. Há vários chefes de Estado - entre eles ex-presidentes da República - e artistas enterrados lá. Acesse a página do cemitério aqui. Os músicos maranhenses enterrados nesse cemitério são:

Leocádio Rayol (1849-1909): Q26, sepultura 1.123A

Elpídio Pereira (1872-1961): Quadra 1, sepultura 14.368A

João Nunes (1877-1951): Aléa 4, sepultura 414


Cemitério de São Pantaleão
Popularmente conhecido como Cemitério do Gavião, fica no bairro Madre Deus em São Luís. Fundado em 1855, é o cemitério mais antigo da cidade que ainda está em funcionamento. Como já era esperado, há diversos músicos enterrados no local. Alguns deles são:

Antonio Rayol (1863-1904): o conhecido tenor, violinista, regente, compositor, professor e primeiro diretor da primeira Escola de Música do Estado do Maranhão, que existiu entre 1901 e 1911, foi um dos músicos brasileiros mais importantes de sua época. Está enterrado na sepultura n.º 84 da 12.ª Seção, junto com seu filho Hilton Rayol (1892-1944), que atuou como tenor amador em algumas oportunidades. Curiosamente, a sepultura menciona anos incorretos de nascimento e falecimento de Antonio.


Ignácio Cunha (1871-1955): violinista, compositor e professor de piano, está entre os nomes mais importantes da música maranhense da primeira metade do século XX. Seu jazigo se encontra na 11.ª Seção.

Carlos Marques (1876-1936): pianista, compositor e regente, era sobrinho do médico e historiador Cezar Augusto Marques. Na mesma sepultura, localizada na 1.ª Seção, está sua segunda esposa, Bembém Marques (1901-1976), que também era pianista.


Raimundo Canuto dos Anjos (1884-1940): contrabaixista de jazz conhecido em São Luís, foi um dos fundadores do Jazz Alcino Bílio. Era também barbeiro e proprietário do salão 28 de Julho. Sua sepultura está afixada no muro que divide as duas áreas maiores do cemitério.

Sinhasinha Santos (ca.1885-1970): pertencente à família Soutto Mayor, que residiu por muitos anos no sobrado que se tornou o Teatro-Cine Éden e atualmente recebe a loja Marisa, foi uma conhecida pianista e professora de piano com intensa atividade durante a primeira metade do século XX em São Luís. Seu jazigo, sem numeração, encontra-se próximo à Capela, ao lado da bela sepultura do Dr. Almir Parga Nina.

Chlorys Padilha (1899-1936): professora de música, teve entre seus discípulos o pianista José de Ribamar Passos (1906-1965), o "Chaminé", que foi presidente do Syndicato dos Musicos, pianista e acordenista no Jazz Alcino Bílio, entre outros grupos. Sua sepultura é a n.º 7 da 1.ª Seção.

Milton Ericeira (1918-1992): médico natural de Arari, dedicou-se à música como amador por breve tempo. O Pe. João Mohana encontrou algumas de suas composições, disponíveis hoje no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM). Está sepultado na 7.ª Seção.

Antônio Vieira (1920-2009): cantor e compositor de canções populares, sendo atualmente um nome reconhecido na música popular maranhense. Seu jazigo se encontra na 7.ª Seção.


Haydée Mattos Collares Moreira (ca.1920-1979): filha do comerciante Antero Mattos e sobrinha do farmacêutico João Victal de Mattos, Haydée atuou como pianista durante sua juventude, quando então fazia aulas com Esther Santos Marques. Sua sepultura se encontra na 1.ª Seção do cemitério.

Lopes Bogéa (1926-2004): natural do povoado de Jericó, em Guimarães, também foi compositor e cantor de canções populares. Sua sepultura está na "parte nova" do cemitério".

Pe. João Mohana (1925-1995): responsável por colecionar partituras, graças a seus esforços uma parte importante da música maranhense foi preservada. Sua coleção está hoje disponível no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM). Sua sepultura está localizada na 3.ª Seção, n.º 71-B.

Olga Mohana (1933-2013): irmã do Pe. João Mohana, foi cantora lírica, com voz de mezzo-soprano. Foi diretora da atual Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM) entre 1979 e 1982, sendo sua gestão conhecida como os "Anos de Ouro" da instituição. Era também professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Seu jazigo se encontra logo no início do corredor da "parte nova" do cemitério.


Capela Bom Jesus dos Navegantes
Anexa à Igreja de Santo Antônio, em São Luís, há várias pessoas enterradas nessa capela, entre elas Ana Joaquina Jansen Pereira (1793-1869), conhecida proprietária de terras e membro da nobreza maranhense do século XIX. Alguns jazigos encontrados são:

Carlos Antonio Colás (ca.1838-1879): "pistonista" (trompetista) que participava das orquestras contratadas para acompanhar as companhias líricas no então Teatro São Luiz, era filho do clarinetista português Francisco Antonio Colás (ca.1808-1871) e irmão de Francisco Libânio Colás (ca.1831-1885), o primeiro músico maranhense a ter uma carreira em nível nacional. Carlos faleceu por beribéri, uma enfermidade recorrente durante o Maranhão Imperial.

Ladislau Muniz Fernandes (1868-1923): nascido em Vianna na época em que a cidade teve várias gerações de músicos prolíficos, graças principalmente aos esforços de Miguel Arcanjo Dias (1871-1925), Ladislau foi compositor, oficial militar e comerciante, tendo residido em São Luís Gonzaga nas primeiras décadas do século XX, onde faleceu. O Pe. João Mohana encontrou treze de suas obras, cujas partituras estão disponíveis hoje no APEM.

Emilia Moura Rayol (ca.1848-1882): primeira esposa de Leocádio Rayol, também era pianista e irmã do jornalista e político João Dunshee de Abranches Moura (1868-1941), compositor algumas obras, entre elas uma "Ave Maria" que ficou conhecida em São Luís no início do século XX. Emilia estudou com João Pedro Ziegler (1822-1882) no colégio "Nossa Senhora da Gloria", que tinha suas irmãs como diretoras.

Affonso de Britto Pereira (1878-1915): irmão de Elpídio Pereira, seu jazigo está na referida capela.


Catedral Metropolitana de São Luís
 Na Sé do Maranhão, há algumas pessoas sepultadas. Nas lápides próximas ao altar, foram enterrados os bispos e arcebispos. Em uma sala à esquerda da entrada, há sacerdotes e membros do cabido. Destaca-se a seguinte sepultura:

Vicente Ferrer de Lira (ca.1796-1857): natural de Portugal, onde atuou como tenor da Sé de Lisboa, veio para São Luís por volta de 1826 para atuar como mestre-de-capela e organista da Catedral do Maranhão. Sua esposa, Anna Adelaide de Burgos e Lira, também jaz nesse mesmo local.

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